Em associação com Casa Pyndahýba Editora
Ano IV Número 50 - Fevereiro 2013

Conto - José Miranda Filho

São Paulo Airport - photo by Elena Christina

Encontro de Amigos - Parte 15

Aeroporto Internacional Governador André Franco Montoro, Guarulhos, São Paulo, Brasil. Janeiro de 1979. A aeronave da Air France havia pousado, com 15 minutos de atraso.

No momento do chek-in, alguém se aproximou do Doutor Jackson e disse: — Queira me acompanhar, por favor, senhor. Sou o Delegado Pedro Silveira, da Policia Federal.

— Sente-se e se identifique, por favor.

— Sou Jackson Stevenson Alves. Sou advogado, professor universitário, ex-funcionário do Itamarati, ex-embaixador do Brasil em Irlanda. Tenho 70 anos e sou brasileiro, disse Doutor Steveson.

— Qual o motivo de sua vinda ao país? Perguntou-lhe o delegado.

— Doutor, sou um ex-asilado e retorno ao meu país anistiado pela Lei que favoreceu todos os expatriados que deixaram este país acusados de crimes que não cometeram. Particularmente eu que não cometi crime algum e fui acusado de pertencer ao sistema e conspirar contra o regime militar e por isso fui banido de minha pátria. Como nada ficou provado, fui absolvido, e hoje regresso ao meu país, aonde devo exercer o meu direito constitucional de ir e vir, como qualquer cidadão livre.

Sem argumentos legais para contrapor o que acabara de ouvir, o delegado, apenas disse: — Tudo bem, mas o Senhor terá que assinar esta declaração de residência e comprometer-se de não participar de qualquer ação, ato ou movimento político enquanto estiver sob a custódia da justiça brasileira e terá que se apresentar todos os meses à Policia Federal.

— Doutor, segundo a Constituição, sou um cidadão livre, já fui julgado e absolvido das acusações injustamente a mim atribuídas, portanto, tenho o direito como qualquer cidadão de me locomover livremente para qualquer lugar, o dia e a hora que bem entender.

O Delegado, sem maiores rodeios, devolveu-lhe o passaporte, liberou suas bagagens, e desejou-lhe boas vindas.

Dr. Jackson, finalmente dirigiu-se à sua antiga residência na cidade de São Paulo, no Bairro do Itaim. Herança de seus pais.

Permaneceu em São Paulo apenas dois anos, e em 1982 partiu definitivamente para a Irlanda, exilando-se voluntariamente pelo resto da vida, até a sua morte ocorrida em 2005.